Sobre crianças ‘crescidas’ ou não, por Kelly Shimohiro
DIA DAS CRIANÇAS
Ela acordou. Colocou os laços. Fez um merengue e pintou os lábios. A mãe não veio. O pai tava cansado. Ela abriu o presente e o deixou de lado. O dia das crianças foi assim, um fiasco.
Luan
O nome dele era bonito
Luan
A vida dele não
Ninguém notava
Ninguém ligava
A cidade toda sorria
(banal, fervia)
Luan tentava
Sozinho
Na rua, no meio do nada
Ninguém notava
Ninguém ligava
Alunos colavam
Políticos infartavam
(na Suíça, logo se recuperavam)
Luan pedia
A cidade toda xingava:
– Vagabundo, nunca fez nada!
Luan chorava
E tentava
Sozinho
Na rua, no meio do nada
Ninguém notava
Ninguém ligava
O mundo acabou
O inferno lotou
O céu caiu
A Terra sumiu
E Luan sorriu
Agora
Todos notavam
Todos ligavam
Sobre travessias, sonhos e ‘saberes’, por Dany Fran
Abriu sorrisos.
Acendeu desejos.
Alimentou os ossos.
E partiu.
Ficando pra sempre!”
O sonho da casa própria. Carteira assinada. Bodas de ouro. Férias na Disney. Não eram seus. Ainda que empacotados. Perfeitamente emplastificados, ocupassem todos os dias de sua agenda. Até que uma noite (alguns) foram ‘quebrados’. Mais uma vez, não por ele. Perdido e fodido, sonhou. Pela primeira vez.
O privilégio do ‘não saber’
O que há de errado…
Com as cucas que não têm respostas pras suas perguntas?
Com as pestanas que veem ‘confuso’ o que surge diante de sua fuça?
Com os pés velozes que não estão apressados?
Com as mãos firmes que não seguram tudo?
Com a boca aberta que não se enche de qualquer palavra?
Com as pernas postas, que não têm ideia pra onde ir?
Que diabos há de errado em saber que não dá pra ‘sabê’ tudo, pô?