No mundo da ficção, buscamos imaginar a história como um todo: enredo, trama, conflitos, ambientação, núcleo principal, núcleos paralelos, cenário, etc… descrevendo cada detalhe de um jeito que a história ganhe vida e, com isso, que o leitor se emocione, se identifique ou se projete nela.
E não há elemento na construção de uma história boa que se compare à personagem. Tudo pode estar no lugar certo, feito de maneira quase perfeita, se a personagem não convencer, a história não funciona.
Se você pensar em como a vida acontece, vai perceber que é a mesma coisa. Quem interessa são sempre as pessoas. A atração principal é sempre você! O autor se debruça nas personagens e você se empenha em inventar uma vida que convença a si mesmo de que vale a pena.
” – Se eu quero e sei que é possível não dar…. não largo o osso até poder sentir algum sabor. Aposto que Amanda nem pega e não demora pra experimentar outro prato. Tanta persistência para aqueles aparelhos idiotas. Fitas. Arcos. Bolas. Cavalo. E nenhuma flexibilidade pra gente.”
“- Uma coisa é insistir no que te desafia, mas também te nutre. A ginástica posso agarrar, que ela vai me assumir. Não apenas com vontade, mas do jeito que eu sou. Agora, o Leo tá sempre sugando sua agenda cheia de holofotes e empresários engomadinhos e escapando da minha. Como é que vou persistir nessa relação?” (trechos de um diálogo ficcional)
Que tipo de pessoa é Leo, persuasivo e focado, que não é capaz de se dar conta da maleabilidade que a Amanda tem lhe cedido?
Que tipo de pessoa é Amanda, determinada e independente, acoada diante dos receios de avançar em um relacionamento com alguém por quem está completamente apaixonada?
Essas pessoas são personagens suficientemente humanas em suas qualidades e defeitos. Seres imaginários sutilmente criados com atributos físicos e comportamentais, passado e aspirações, temperamento e comportamento pra pegar na sua mão e te fazer encarar o conflito de uma trama, que você vai seguir como se fosse sua. Porque vai ser, por algumas páginas, dias, realmente sua.
E como as personagens se parecem com a gente, todas elas têm:
Dados biográficos (data de nascimento, árvore genealógica, cidade natal, ocupação atual, histórico escolar, etc);
Perfil Psicológico (medos, defeitos, manias, traumas, conflitos internos, qualidades, idiossincrasias, etc);
Perfil Físico (idade, aparência, peso, altura, cor, etc);
Perfil Comportamental (jeito de olhar, maneira de falar, tiques, trejeitos, tom de voz, etc);
Conflito (obstáculo a ser superado, sonho a ser alcançado, objetivo para seguir – ou falta de objetivos, etc);
Preferências pessoais (comidas que gosta, músicas, cheiros, lugares, roupas que usa, cores… e tudo que não gosta também, que não suporta, etc)
Outras personagens em sua rede de contato (amigos, família, conhecidos, casos, acasos, etc);
Pensamentos (vai e vem mental, o tempo todo);
Sentimentos (tristeza, alegria, melancolia, tédio, entusiasmo, solidão, etc)
Também tem segredos, mentiras, crenças, lembranças, loucuras, vícios, doenças, dívidas, sonhos, pesadelos, insônia. Até unha encravada personagem tem.
As personagens têm tudo o que temos.
De qualquer maneira, em ficção ou na realidade, a personagem é a chave para se construir uma história (ou uma vida) que valha a pena. Bom investir!
Texto das Irmãs de Palavra